quarta-feira, agosto 22, 2007

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Querido diário,

Lembro-me da minha mãe falar da noite em que nasci. Choveu e trovejou muito nessa noite, sabias? Lembro-me ainda que quando era mais nova achava piada a essa história porque ela teve muito medo. Costumava imaginá-la sozinha, só comigo ao colo, deitada na cama de um quarto grande e escuro pelo sol encoberto, à espera que o meu pai voltasse da rua para a confortar. E depois sorria por ter uma imaginação tão fértil. O quarto que imaginava era o da casa em que vivia e não onde nasci e o cenário que pintava era bem mais dramático do que o que na realidade teria sido.
Porém, agora que sou mais crescida e dizem que o meu pensamento é mais complexo, reflicto e questiono-me se essa noite tempestuosa será algum presságio. O que poderá significar uma tempestade na noite em que nasci? À medida que os anos passam e eu me vejo crescer julgo que essa tempestade definiu a minha vida.

Pode ser a adolescência, pode ser essa “fase” da qual os adultos falam e tanto gostam de mostrar que conhecem e percebem melhor do que ninguém. E eu ouço-os e vejo os seus sorrisos e pergunto-me se eles realmente se lembram de ser adolescentes. É que eu não julgo ser a única adolescente miserável e, pelo que leio, a adolescência no Ocidente é um período agitado, por isso, como podem eles falar de forma tão feliz da adolescência deles, ignorando todos os problemas que possam ter tido? Creio que não se lembram como se sentiram. Talvez a memória deles apague essas lembranças e só os factos permaneçam esmagando as emoções experienciadas.
Aceito que com o tempo vem a compreensão e que portanto a percepção da minha adolescência daqui a uns anos será bastante diferente da que tenho agora, até porque a analisarei com distância suficiente das emoções, ou seja, pensarei melhor. No entanto, custa-me a acreditar que quando chegar a adulta subvalorizarei todas estas sensações. Elas não são assim tão sem valor.

Bem, vou dormir que o amanhã começa as 8h30 com aula de Português. Estamos a dar poesia e eu tenho adorado cada aula. Até outra altura.

A tua única escritora,

Lara