quarta-feira, julho 12, 2006

Para sempre na memória

O tempo mudar-te-á. O tempo muda-te. Os teus defeitos tornar-se-ão exagerados. As tuas qualidades serão diminuídas. Tudo o que de apaixonante possuías e demonstravas desvanecer-se-á. Os teus belos olhos verdes, já não serão belos. A tua apetitosa boca carnuda, deixará de ser apetitosa. O teu porte masculino e atraente, não mais atrairá. Tudo porque já não serás segredo. Tudo porque os mistérios do teu corpo parecerão revelados e descodificados os caminhos do teu pensamento e previsíveis as tuas acções. O que de cativante existia, transformar-se-á em aborrecimento. Tu não serás o mesmo. Já não o és.
Mas a imagem que se acorrenta à (minha) memória é a do brilho dos teus olhos, do teu sorriso, é a lembrança do cheiro da tua pele, da suavidade da palma da tua mão, da tua face, é a recordação sonora da tua voz grave. Na minha memória ficarão gravados só pequenos instantes da tua presença. E será na tua ausência que eu recordarei os melhores momentos, os mais breves, aqueles a que o tempo não toca porque não se prolongam. Será na tua ausência que eu saberei o todo que tu és, pelo pouco que te sei. Será na tua ausência, na ausência da tua presença cativante e apaixonante, que eu recorrei aos instantes guardados na minha memória e me apaixonarei de novo e ignorarei o que o tempo te faz ser, o que a ausência de segredo me revela. É pela minha memória que eu te adoro e te adorarei acima de quaisquer transfigurações a que o tempo te sujeitará.