quinta-feira, outubro 20, 2005

Chocolate quente

Hoje fui a Sintra e bebi um chocolate quente. Hmm... soube-me tão bem! Há que tempos que sonhava com aquele sabor e aquela textura! Soube ainda melhor porque o tempo assim o fez saber; esteve um dia cinzento e de vez em quando chovia fortemente, o frio fazia-se sentir, se bem que não muito. Um dia perfeito para um chocolate quente! Eu e o meu cachecol de riscas largas mais um cigarro light nos dedos e um livro na outra mão numa tarde que parecia de Inverno.

Ando a ler Bernardo Soares. Já há muito que queria acabar de ler o "O Livro do Desassossego", mas os indesejados inconvenientes afastaram-me os sentidos deste livro maravilhoso. E foi, exactamente quando acabei de ler a introdução do editor, que interrompi. Agora voltei à sua leitura e é realmente fascinante! Preenche-me... Sem dúvida que irá para a minha lista de favoritos; favorito não será bem a palavra mais ajustada, mas sim marcante; será um livro marcante, com certeza.

Passeei cerca de uma hora pelo centro da cidade. Explorei as ruelas e visitei várias lojas! Demorei-me a apreciar a beleza daquela cidade tão romântica (romântica-romântica e não no sentido banal que dão agora à palavra). A vegetação, o ar, as fontes, os turistas (porque até nesta altura os há), o movimento... tudo me conferiu uma paz que há muito ansiava. Depois, demorei-me cerca de hora e meia no castelo e, de seguida, no palácio da Pena que ainda é o que mais me fascina; tanta cor, tanta vida, tanto mistério que se respira naquele nevoeiro cerrado! Uma beleza eterna parada no tempo. A meia hora que restou da minha estadia passei-a no "cafezinho dos chocolates quentes", como já lhe chamo. A beber e a ler, aconchegando o cachecol ao pescoço e mergulhando a alma nas palavras de Soares.
Deixei-me ficar até por volta das 16h30, hora em que paguei, arrumei as minhas coisas e dei início à viagem de regresso a casa, com quem partilho a alegria de me ver ajeitar confortavelmente no sofá e conversar com as paredes. Soube-me bem a ida a Sintra, mas também sabe muito bem o regresso a casa. Por isso, adoro os dias cinzentos; dão um outro aspecto às coisas. Comigo, têm tendência a espalhar conforto em redor.

P.S. Queimei a língua... o chocolate estava demasiado quente. Ainda assim, vou sonhar com aquele sensação inverniça que o aroma e o sabor doce construíram...

terça-feira, outubro 18, 2005

Mentismo

A única coisa que prometo é a de que vou morrer e nascer outra vez, mas não prometo que estas serão páginas de um diário diário; nem prometo ser interessante, nem prometo ser fácil de ler e compreender; não prometo encher nem satisfazer, não prometo sequer cativar. E uma última coisa, que eu, de facto, gostaria de prometer mas não posso, é a de que não prometo ser coerente. Sou uma personagem fictícia ainda por definir.

Quanto mais penso mais o vazio me invade ao contrário do que seria de esperar. O cansaço pesa-me nos olhos, no pescoço, na cabeça, em todo o corpo. Dói-me a cabeça e não consigo parar de pensar. Penso, tudo flui e nada se fixa. E dói-me a cabeça. E as palavras deixam de surgir...

domingo, outubro 09, 2005

Primeira página

Este é mais um dia do resto desta minha vida, mas esta é a primeira página de um todo.
São as páginas que permanecem no tempo e que guardam as palavras; as adoradas, bajuladas, misteriosas palavras; essas a quem as letras dão vida, erguem, enchem, consomem...
Segredos, suspiros, apontamentos, rabiscos, pseudo-redacções sobre um assunto que surge em hora estranha, confissões de efémeros amores apaixonados, relatos banais acerca da banalidade do quotidiano, opiniões, críticas construídas cuidadosa e meticulosamente, devaneios enfim... serão os fardos destas pobres páginas que se seguirão.